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28/08/2020
EU DEI O SANGUE: Pichetti relembra o turbinado Mecão de 1993




Flamengo 1 x 1 America - Carioca 1993 (Taça Guanabara). Em pe: Gilmar Francisco, Odemílson, Pino, Renê Playboy, Marcelo Lourenço e Marquinhos. Agachados: Jerry, Djair, Serginho, Luís Carlos e Pichetti (Juha Tamminen)


O Campeonato Estadual de 1993 começou sob grande expectativa para a torcida americana. E não era pra menos.

O bicheiro Emil Pinheiro e o empresário Léo Rabello aportaram em Vila Isabel com um time inegavelmente forte. Entre eles, cerca de 15 atletas dos quais Emil detinha os passes e que tinham sido vice-campeões nacionais pelo Botafogo um ano antes. Entre eles, um ponta raçudo, impetuoso, de chute forte, que caiu rapidamente nas graças do torcedor: Jaci Luís Pichetti, ou simplesmente Pichetti, nosso convidado para inaugurar a seção Eu dei o sangue aqui no MecãoNet.

O time não chegou onde a nação rubra sonhou. Mesmo com um goleiro de seleção (Marcelo Lourenço fora convocado para as seleções de base e para o pré-olímpico dos Jogos de Barcelona), gente vinda da Itália (Djair veio da Lazio para o Mecão!) e outros ótimos jogadores, ficou apenas com o sexto lugar, posto que nos dias de hoje seria mais comemorado. Com nove gols, Pichetti, foi um dos destaques daquela equipe, que fez o Wolney Braune voltar a fervilhar e encheu de esperança, por algumas semanas, o coração dos torcedores como este escriba.

Confira abaixo o papo com o ex-atacante, que teve outras passagens pelo America fora das quatro linhas e completou 52 anos no último dia 27.

Pichetti - Você ainda lembra de cabeça os times que defendeu como atleta e as comissões técnicas que integrou? Quais foram?
Mecão Net - Como atleta comecei no Juventude, de Caxias do Sul. Depois vieram Botafogo, Grêmio, America, Vitória, Paraná, Botafogo/SP, Santa Cruz, Araçatuba e Guarani (1998). Encerraria a carreira precocemente, um ano depois, aos 31 anos. Comecei em comissões técnicas no Duquecaxiense, trabalhando no comando do time sub-20 e como auxiliar na equipe principal. Fui auxiliar do Aílton (NR: Aílton Ferraz, ex-técnico e jogador do Mecão) pela primeira vez no America, depois na Cabofriense, Volta Redonda, CFZ e Duque de Caxias. Depois, com Maurílio, Rio Branco/PR, Treze, Altos, Nacional/PB e nesse ano até a pandemia no ASA. 

2. Como foi deixar o Botafogo e vir para o Mecão em 1993? Você lembra bem como se desenrolou a história?
Lembro, sim! Antes, tive o Grêmio no meio do caminho (NR: O Estadual de 1992 aconteceu no fim do ano e o de 1993 veio em seguida). O meu passe pertencia ao Emil e ele saiu do Botafogo e automaticamente tirou o time todo de lá. Quando voltei do Grêmio, ele e Léo Rabello tinham assumiram o America com vários jogadores de 1992. Foi ali que tive a honra de vestir esse manto e defender um clube tão querido por todos.

3. E daquele time rubro? Era metade do Bota vice-campeão nacional de 1992 - entre eles você - e bons reforços...
Verdade. Foi aquela turma do Botafogo. Eu, os zagueiros Renê e Gilmar, Odemilson, Marquinhos, Pino, Djair, além de alguns outros bons reforços: Luís Carlos, Jerry, o Edenílson que já estava no clube. Era pra ter chegado mais longe. A gente fez bons jogos, mas deixou a desejar em outros. Era um belo grupo, um time cotado pra chegar.

4. O time era fortíssimo, considerado um dos três favoritos ao título, mas não evoluiu conforme imaginávamos. O que aconteceu?
Acabou que não evoluiu. Inexplicável. As vezes se monta um grupo e no papel imagina-se um candidato ao título, mas as vezes não evolui como se imagina. Um exemplo daquela época é o Ataque dos Sonhos do Flamengo (NR: Sávio, Romário e Edmundo) e no campo a coisa não foi como se imaginava. As vezes um favorito não funciona no campo. É o charme do futebol.

5. Não me lembro, de 1993 pra cá, de termos dois pontas tão bons no mesmo time como você e Edenílson. Como era o entrosamento desse ataque, que ainda tinha Beto, Serginho, Bujica, Lima... A figura desse atacante de lado voltou de vez?
Bela parceria! Não só com ele, mas com todos os atacantes do elenco. Edenílson, porém, era muito fera. Ponta esquerda nato, muita força e qualidade, tanto que depois foi para o Cruzeiro e fez outro belo trabalho lá. A química foi tão boa que com ele atuei pela direita pra jogarmos os dois. Depois de tanto tempo estamos recuperando esse perfil no futebol, voltando a usar os atacantes rápidos, de lado, com três homens de frente, tornando os times mais ofensivos. É a minha formação favorita. 

Alguns dos jogadores que, além de Pichetti formaram o forte Mecão de 1993: a defesa com quatro jogadores vindos do Botafogo vice-campeão do ano anterior (Odemílson, Renê Playboy, Gilmar Francisco e Marquinhos); Marcelo Lourenço, goleiro convocado para a seleção pré-olímpica pelo AFC; também ex-Botafogo em 1992, os volantes Pino e Djair, o lateral-esquerdo Renato Martins, meia Jefferson e os atacantes Bujica e Aélson. Chegaram também atletas como os meias Luís Carlos, ex-Flamengo e Vitória, Jerry e Renê Weber, os dois últimos ex-Fluminense, além do atacante Lima, ex-Grêmio e Benfica/POR. Todos esses se juntaram a alguns jovens promissores do America, como o meia Rogério e o atacante Serginho. Joel Martins, Valdir Espinosa e Zanata foram os técnicos, nesta ordem.

6. Você voltou ao Mecão como auxiliar-técnico do Aílton, certo? 
Sim! Em 2007, estive com Ailton, que era auxiliar do Jorginho em 2006 e assumiu o time em 2007. Ganhamos jogos que ninguém esperava (NR: O America venceu clássicos contra Vasco e Fluminense na Taça Guanabara). Era um baita time. Eduardo Allax no gol, Junior Baiano e André na zaga, Válber, Bruno Lazaroni, André Gomes... Ataque qualificado com Marco Brito e Júnior Amorim. Fomos para a semifinal da Taça Guanabara. Foi a nossa primeira parceria. Voltamos em 2014, pro final da Série B e na Copa Rio.

7. Aquele time da Copa Rio tinha jogadores experientes, como Gilcimar, Marcelinho e Raphael Azevedo, mas revelou um atacante bem jovem à época: Daniel, que jogou até 2020 no Mecão. Como você avalia o atacante, hoje no Volta Redonda?
Juntamos boas peças em 2014, mas a prioridade era lançar jovens, como o Daniel, que tem muito potencial. Aproveitando a deixa, é isso o que falta para o America hoje, mas é preciso  procurar parcerias, valorizar e dar incentivo, pois é o que sustenta o clube. Muitos pensam que tem de chegar e ter conquistas, mas esse trabalho real de base falta em muitos clubes. A gente vê pouca revelação no Rio de Janeiro. Uma pena, pois é muito satisfatório lançar jogadores quando se chega a um clube.  

O America de 2007 chegou às semifinais da Taça Guanabara e ficou em sétimo lugar na classificação geral do Estadual, conquistando vaga na Série C do Brasileirão no ano seguinte. Em 2014, na Copa Rio, o Mecão passou pela Primeira Fase e chegou à Fase 2, com dois grupos de quatro. Dois times avançavam, mas o AFC foi o terceiro, com oito pontos, um atrás do do Madureira, que chegou às semis e foi vice-campeão, perdendo a final para o Resende.

8. Teu adeus ao futebol foi cedo, em 1999, por influência de uma cirurgia, certo? Como foi essa transição para a sua vida?
Parei cedo, aos 31 anos. Fiz uma cirurgia delicada no joelho. Quando você é pego de surpresa é complicado, é muito difícil pro atleta. Para operar, assinei um termo de responsabilidade porque o procedimento era complicada e eu corria o risco de não voltar. Sempre tive de estar 100% fisicamente pra render, mas não conseguia treinar mais em 100%, então optei pela parada, triste, precoce. Não vou dizer que foi fácil, que tirei de letra, mas amadureci rápido, entendi que precisava partir pra outra e não queria sair do futebol. Fui estudar, fiz cursos, me aperfeicoei e quando pintou uma nova oportunidade, comecei a trabalhar e tô aí até hoje. Não é fácil, é um recomeço, é tudo difícil no início, complicado ter as oportunidades. Daqui a pouco pinta algo novo para eu mostrar meu trabalho.

9. Como é a tua participação como auxiiar nos times em que trabalha? 
Tive a oportunidade de trabalhar com dois caras com a mente muito aberta (Ailton Ferraz e Maurílio Silva, ex-atacante do Palmeiras), que deixam trabalhar, escutam e dialogam. Com o Maurílio, joguei no Santa Cruz e no Paraná. Ailton foi uma amizade que fiz no Rio, inclusive nossas famílias se tornaram amigas. São caras que trocam ideias com o auxiliar. Sem essa conexão não há como trabalhar junto, a função serve pra isso, pro bem do grupo. Treinador que não confia no auxiliar não pode ter um. 

10. Quais foram as melhores lembranças do futebol?
Futebol me deu muitas lembranças boas. Quando comecei no Ju foi o primeiro sonho, não esperava chegar onde cheguei. Procurei aproveitar as oporunidades. Chegar ao Botafogo, uma potência, foi o máximo. Pude jogar um final nacional em 1992, outra em 1993 (NR: pelo Vitória, contra o Palmeiras), conquistei títulos na Bahia e no Paraná. Futebol é bom pra quem é apaixonado. Deus foi generoso. Sou muito grato, foi muita coisa boa, minha carreira foi espetacular, fui muito abençoado. Sigo nele (futebol) porque é minha vida, tá no sangue. 

11. Deixa um recado pro torcedor americano, Pichetti!
Foi um prazer. Obrigado, torcida americana. Um honra ter vestido essa camisa, foi uma passagem maravilhosa, de ótimas recordações. Tive a oportundiade de voltar duas vezes. Futebol é assim, sempre rodando. E sempre na torcida, sempre mesmo, para que as coisas melhorem, pois o America é um querido de todos. Sou um desses apaixonados, acompanho o time e espero em breve estar de volta. 

Marcio Menezes

 



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