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13/09/2020
EU DEI O SANGUE: Zagueiro Saint-Clair e a identificação vinda desde a base




Saint-Clair em evento no Giulite Coutinho em 2019 (Marcio Menezes)


A década de 1990 foi muito difícil para o America. O distanciamento financeiro e estrutural começava a ficar mais gritante em relação aos quatro maiores rivais e os títulos escassearam de vez. O torcedor, mais do que nunca, era testado em seu amor.

Apesar disso, muitos jogadores vinham da base rubra, mostravam qualidade e honravam a camisa. Um desses exemplos foi o zagueiro Saint-Clair, nosso segundo personagem da série "Eu dei o sangue".

Nome Completo: Robson Saint-Clair da Silva Aguiar
Nascimento: 28/08/1971, no Rio de Janeiro (RJ)
Altura: 1,82
Clubes: America (1991-1992, 1993, 1994-1997), América/GO (1993); Anapolina (1997); Cercle Brugge, da Bélgica (1997-98); Atlético Zamora, da Venezuela (1998); Nueva Cádiz, da Venezuela (1999), Zulianos, da Venezuela (2000, 2001-2002), Rio Branco/ES (2000), Monagas, da Venezuela (2000-2001) e XV de Piracicaba (2002)

A carreira de Saint-Clair, que começou na base no fim dos anos 80, sempre esteve ligada ao Mecão. Conversamos com ele, que é hoje é fisioterapeuta, sobre a formação de jogadores, além de relembrarmos times em que o defensor esteve presente. O Eterno Guerreiro Luizinho Lemos, que foi seu treinador, não podia faltar no papo.

 

MecãoNet: Em que ano você chegou no Mecão? Ficou quanto tempo na base rubra?
Saint Clair: Cheguei no infantil do America em 1986 vindo do Flamengo, onde tinha disputado o campeonato na categoria mirim. Fiquei cinco anos na base. Em 1991, subi definitivamente para o profissional, pois já participava dos treinos e jogos nos dois anos anteriores.

Naquele tempo era tão grande a distância de estrutura para os quatro grandes? E entre os clubes de menor invetimento, havia algum com melhores condições de trabalho que o AFC?
Naquela época era claro que depois dos quatro grandes, que tinham altos investimentos, era o America o mais tradicional e melhor clube. Quem mais se aproximava de nós era o Bangu.

Alguns dos atletas contemporâneos de Saint-Clair que fizeram bom papel no profissional: os atacantes Beto e Álvaro, o goleiro Alexandre Gomes, o meia Rogério, o volante Carlinhos e o lateral-esquerdo Vanderlan, entre outros.

Como você se definiria? Um zagueiro mais técnico ou daqueles que tinha a força como maior característica?
Eu era um zagueiro mais técnico, mas em alguns momentos usava a força. Gostava das roubadas de bola e a partir delas já buscava armar os contra ataques, pois tinha um bom passe e uma ótima leitura de jogo.

Você teve muitos parceiros de defesa. Dá pra eleger um como o melhor?
Tive vários parceiros de zaga e aprendi muito com cada um deles. Mas se é pra eleger um, o melhor que tive o prazer de jogar no profissional foi Denílson.

Você pegou a transição da saída do Andaraí para jogar (e as vezes até treinar) em locais alugados. Era grande o prejuízo?
No Andaraí tínhamos a nossa casa, que todos consideravam um caldeirão. O clube não tinha gastos pra treinar lá. Mas em vários momentos tivemos que sair dali pra treinar em outros campos, o que gerava um custo ao clube. Fizemos vários jogos fora do Andaraí onde, com certeza, o America saiu perdendo financeiramente. O prejuízo com certeza era grande.

O último jogo do America no Wolney Braune foi em 22 de maio de 1994, em duelo do sub-20 do Mecão contra o do Flu. Depois, o clube só faria um duelo oficial em sua nova casa, o Estádio Giulite Coutinho, no dia 2 de fevereiro do ano 2000: 2 a 2 com o Bangu, pela Seletiva do Estadual. Sorato fez os gols rubros.

Você teve o Luizinho como técnico duas vezes. Como era o trabalho dele? Quais eram as suas maiores virtudes?
Tive a oportunidade de ter Luizinho Lemos como treinador por três vezes, duas vezes no America e uma no Rio Branco/ES. Foi um excelente treinador, que fazia o time jogar com intensidade, velocidade e muita força na chegada ao ataque. Sempre jogava junto com o time. A empolgação do Luizinho na beira do campo era um incentivo a mais pro grupo, pois ele vibrava como se estivesse jogando. Excelente treinador e excelente pessoa. Saudades do Guerreiro.

Lembro bem daquele time de 1995, grupo raçudo, cheio de gente formada em casa. O America tem, recentemente, renovado mais contratos de jogadores formados no clube. Isso faz diferença?
O trabalho com os jogadores da base é importantíssimo. O clube precisa fazer um trabalho pra  revelar jogadores. É claro que esses jogadores precisam ter em um grupo uns 4 ou 5 jogadores rodados pra passar experiência aos jovens. Infelizmente na minha época não souberam aproveitar a safra que tínhamos. Minha geração fez finais de campeonatos na base contra o Flamengo, que soube trabalhar e revelar praticamente todos os seus jogadores, enquanto o America dispensou vários e não deu o devido valor a eles. Poderiam ter sido emprestados para que, quando voltassem ao clube, estivessem com mais experiência. Enfim, na minha opinião a diretoria da época falhou em não fazer um planejamento pra revelar seus jogadores da base. O clube precisa voltar a fazer isso.

Algum jogo da tua carreira profissional você pode colocar como inesquecível? Qual seria e por quê?
Houve vários jogos inesquecíveis no profissional do America, mas quero destacar as vitórias sobre o Botafogo no Carioca 1995. Vencemos no primeiro e no segundo turno o mesmo Botafogo que foi campeão brasileiro naquele ano. O America se apresentou muito bem nos dois jogos e mostrou a força que tinha aquele time, montado por Luizinho. Eu, particularmente, fui muito bem também. Acho que o importante aí nessas partidas não foi o fato de derrotar o Botafogo simplesmente, mas sim a maneira como a equipe se portou dentro de campo. Tudo o que foi treinado foi realizado nesses dois jogos. E não foi o Botafogo que jogou mal, o America é que jogou muito bem. Digo isso porque boa parte da imprensa esportiva não valoriza o trabalho dos clubes que ganham dos chamados grandes aqui no Rio. Pra eles, sempre o grande é que foi mal. 


O America venceu o Botafogo duas vezes no Carioca de 1995. Na primeira fase, 1 a 0 em Moça Bonita, em 16 de fevereiro. A outra, 2 a 0, no dia 1º de maio, no Caio Martins. Em comum, os gols do Gílson, que vinha fazendo azeitada dupla de ataque com André Miquimba.

Como nasceu esse time master do Mecão de hoje? Quem que o torcedor pode rever nessa equipe?
Aqui no Rio, um dos poucos clubes que não tinha o Master era o America. Temos um encontro de gerações, onde fazemos futebol, churrasco e pagode. Já nos encontrávamos, mas nunca tinhamos posto isto em prática. Ano passado recebi um telefonema do amigo Leandro Gaúcho, também ex-jogador do America. Ele me perguntou se teríamos um master pra disputar a Copa Master, que seria realizada no CFZ do Recreio e teria o Edu Coimbra como homenageado. Então eu disse que sim, que poderia incluir o America, mesmo antes de falar com cada um individualmente. Vários me apoiaram e iniciamos a montagem do grupo para disputa dessa competição, da qual terminamos como campeões. Alguns dos atletas que atuam comigo no Master do Mecão: Pedro Paulo, Rogério, Álvaro, Carlos Alberto, Carlinhos, Anésio, Tiquinho, Ratinho, Luiz Cláudio, Alexandre Cruz, Caju, Dida, Bira, PC, Waltinho, Robson, Esquerdinha, Leonardo, Fábio, Marcelo, Jackson, Fábio Luiz, Chiquinho, Avelino, Ronald, Marcílio, Charlles André, Gilney Barreto, Moreno, entre outros. 

O torcedor curte rever seus ídolos, quem já vestiu suas cores. E pro jogador, qual é a sensação de se manter na ativa com os masters? 

O jogador sempre tem identificação com um determinado clube. E no America Master não é diferente, a maioria tem uma ligação verdadeira com o clube, somos apaixonados pelo America. A satisfação de vestir o uniforme e entrar em campo é grande demais. Levar o nome do America a todos os lugares onde vamos jogar é motivo de honra e temos de honrar o manto que vestimos. É muito bacana chegar nos jogos e ver torcedores americanos torcendo e conversando conosco após as partidas. É um prazer imenso seguir vestindo a camisa do Mecão.

O America de hoje, você acompanha? As dificuldades de hoje parecem iguais ou maiores as do seu tempo de profissional? 
Acompanho, mas não tão perto quanto gostaria. O clube tá pagando hoje pela más administrações passadas, onde muitos dirigentes não tinham capacidade e dignidade para estar a frente de um clube com as tradições do America. Infelizmente alguns oportunistas acabaram com o clube quando oportunidades de crescimento eram maiores, mas os mesmos dirigentes não permitiram esse crescimento visando o próprio benefício. Hoje o Presidente Sidney dentro do seu mandato tem feito de tudo pra levar o America de volta a elite. Sabemos das dificuldades, mas o trabalho tem sido feito da melhor maneira possível. Infelizmente, o regulamento absurdo do futebol carioca não permitiu ainda o America na Primeira Divisão, visto que por três vezes o clube teve que disputar uma Seletiva depois de ter sido campeão ou vice da Série B. Acredito, porém, que chegaremos lá e o America estará de volta a elite.

Deixe um recado para o torcedor do Mecão!
Aos torcedores do Mecão quero deixar o meu abraço e agradecimento. Dizer que em breve o America estará de volta a elite do futebol carioca que é o primeiro objetivo e depois voltar ao cenário brasileiro. O America voltará a ser grande, com grandes jogadores e grande torcida.

Marcio Menezes

 

 

 

 

 

 

 



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